Meeting de Líderes debate soberania nacional e desafios para o ES e o Brasil
Evento realizado pela Findes e pelo Cindes aconteceu nesta sexta-feira (29), em Pedra Azul, Domingos Martins
Em meio às mudanças na dinâmica do cenário econômico mundial, garantir a soberania nacional passa, necessariamente, por uma indústria forte. O apontamento foi feito por lideranças, empresários e economistas que participaram primeiro dia do 16º Meeting de Líderes, realizado entre os dias 29 e 30 de agosto. As palestras e painelistas discutiram o contexto nacional e internacional, além dos desafios que o Espírito Santo terá nos próximos anos.
Promovido pela Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) e pelo Centro da Indústria do Espírito Santo ( Cindes ), o evento, aconteceu em Pedra Azul, Domingos Martins. Neste ano, o tradicional encontro de empresários e lideranças capixabas teve como patrocinadores ArcelorMittal Brasil , Samarco , Sebrae ES , Sicoob Espírito Santo , Suzano e Vale .
Abrindo o encontro, o presidente da Findes, Paulo Baraona , reforçou a importância da indústria para o desenvolvimento da economia capixaba e brasileira.
“Precisamos investir em tecnologia e inovação dentro das nossas fábricas. Um país que aposta na indústria não apenas se desenvolve, mas garante sua soberania", afirmou.
Baraona ainda elencou a redução da taxa de juros, a mudança do perfil do capital humano e a melhoria da infraestrutura como temas fundamentais para a melhoria do ambiente de negócios do Estado e do país. “O setor industrial capixaba é forte porque temos mais de 20 mil indústrias, das pequenas às grandes, lideradas por empresários que batalham todos os dias para fazer o seu negócio continuar ativo. Estamos sempre em meio a inúmeros desafios e este ano não tem sido diferente”.
A vice-presidente do Cindes, Sandra Helena Rosa Kwak , destacou a importância da participação dos empresários. “O Meeting é o momento em que temos a oportunidade de nos aproximar, trocar ideias, compartilhar experiências, e o mais importante: aprender uns com os outros. É nessa troca genuína que fortalecemos a indústria e a economia. É nela que enxergamos juntos novos caminhos para um Espírito Santo mais próspero e cheio de novas oportunidades”, apontou.
O governador do Estado, Renato Casagrande, apontou a importância da indústria na consolidação de uma economia mais moderna e sustentável. Para o governador, a Nova Indústria Brasil (NIB) é uma base de política industrial muito forte para o país e uma ferramenta importante rumo a uma economia mais verde.
"Nosso Estado está avançando na verticalização das atividades de café, papel, na sofisticação maior da nossa atividade econômica que por muito tempo foi simplista. Precisamos sofisticar e investir em inovação, em ESG, em sustentabilidade. Se quisermos salvar o planeta, temos que ter uma indústria forte. Precisamos produzir mais com menos energia. Temos que mudar a nossa forma de produção de energia e ter mais eficiência. Ter a indústria como condição primeira de proteger o planeta é ter soberania. Temos que ter ciência de que nós não podemos aceitar a intromissão de ninguém”, afirmou.
Já o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Santos, defendeu a união entre os poderes públicos e o setor produtivo na defesa de pautas importantes para o Estado e para o país. “Nós precisamos ter uma Federação das Indústrias forte, um governo forte, um legislativo forte. Não podemos permitir que o Estado saia do caminho de desenvolvimento social e econômico.”
O diretor técnico do Sebrae, Eurípedes Pedrinha, também reforçou a necessidade de fortalecimento da indústria. “Dessa forma passamos a criar valor agregado nos nossos clusters, a fortalecer as micro e pequenas empresas e investir em novos negócios”, disse.
Especialistas discutem presente e futuro
A incerteza do cenário econômico global e o impacto no Brasil foi o tema apresentado pelo economista e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Alexandre Schwartsman, no primeiro dia do Meeting de Líderes 2025. Para o especialista, embora o impacto econômico geral das tarifas norte-americanas seja menor do que o inicialmente previsto, alguns segmentos específicos já sentiram os efeitos.
Outro ponto abordado por Schwartsman foram as expectativas de inflação no Brasil, que permanecem acima da meta, e a necessidade de manter juros reais elevados para conter a pressão inflacionária. Segundo o economista, a natureza da expansão do consumo no Brasil derivou de um crescimento muito forte dos programas de transferência de renda, que tem impacto nas contas públicas.
Enquanto a primeira palestra tratou da instabilidade como fator determinante para a tomada de decisão, a segunda trouxe um olhar para o futuro. O especialista em inovação e transformação digital, Walter Longo , defendeu que as empresas precisam desenvolver uma “alma digital”, indo além do simples uso de ferramentas tecnológicas. “Investir em tecnologia é condição essencial, mas não é suficiente”, aponta.
Ainda de acordo com o especialista, a análise preditiva, impulsionada por algoritmos e inteligência artificial, está revolucionando o mercado que conhecemos. Para ele, o cruzamento de dados permite que análises, antes inexistentes, sejam realizadas de forma rápida e facilitada, impactando desde a logística até a relação com os clientes. “Análise preditiva é o futuro de qualquer negócio e está na nossa mão termos uma interação individualizada com os nossos clientes.”
Indústria em alta: mesa redonda com lideranças
Encerrando a tarde de debates aconteceu a mesa redonda “Indústria em Alta”, que contou com a participação de quatro lideranças capixabas: o presidente da Findes, Paulo Baraona; o diretor-presidente do Bandes, Marcelo Saintive; a vice-presidente Financeira da Findes e presidente do Conselho da Buaiz Alimentos, Eduarda Buaiz; e o conselheiro vice-presidente da Findes e presidente do Grupo Estel, Luiz Cordeiro. O debate foi mediado pela economista-chefe da Findes e gerente executiva do Observatório Findes, Marília Silva.
Confira os destaques da mesa redonda:
Paulo Baraona, presidente da Findes
Mão de obra e logística
“As novas gerações estão chegando ao mercado de trabalho com uma visão diferente sobre o emprego. O tempo de permanência dos profissionais nas empresas vem diminuindo. Precisamos fazer com que nossa legislação alcance esse novo modelo de trabalho que a própria sociedade vem demandando. Logística é crucial, independente do setor. O ES já tinha essa vocação de ser um hub logístico e é isso que estamos fortalecendo junto ao governo estadual e com a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Vale lembrar que o Espírito Santo está praticamente no centro do Brasil, a um raio de 1,2 mil quilômetros de 60% do PIB do país. O futuro é nos transformarmos em um grande hub logístico para o país.”
Marcelo Saintive , diretor-presidente do Bandes
Fundo de Descarbonização do Espírito Santo
“O Fundo de Descarbonização do ES é um projeto inédito no país. São R$ 500 milhões para apoiar projetos estruturados pelo Bandes. Ser o pioneiro é um enorme desafio, mas nos dá muito orgulho também. Existem vários fundos soberanos de outros países e eles nos procuram para entender o que estamos fazendo.
Quando criamos o Fundo Soberano do Espírito Santo (Funses), em 2019, a ideia era poupar os recursos de royalties e participações especiais do petróleo e gás. Agora, decidimos utilizá-los para descarbonizar a economia. É gratificante fazer política pública com recursos bem aplicados.”
Eduarda Buaiz , vice-presidente Financeira da Findes e presidente do Conselho da Buaiz Alimentos
Escuta ativa e participação feminina
“O segredo do nosso sucesso é unir tradição e inovação. Ao longo dos anos, nos preparamos para o futuro com investimentos, pesquisa e novos produtos, sempre atentos ao que o consumidor deseja.
Entre os desafios do dia a dia, busco implementar a escuta ativa. Parece simples, mas nem todas as empresas praticam. Criamos, por exemplo, o ‘Café com a Duda’, em que um colaborador de cada área traz sugestões durante uma conversa. Mais de 20 já foram implantadas por meio dessa iniciativa. Outro ponto essencial é ampliar a presença feminina na indústria e em cargos de liderança.”
Luis Soares Cordeiro , conselheiro vice-presidente da Findes e presidente do Grupo Estel
Desenvolvimento da indústria
“Vivemos a transformação industrial do país. Não só em automação, mas também em equipamento. O Espírito Santo desenvolveu um parque de fornecedores para papel e celulose que hoje atende todo o país, e esse aprendizado se expandiu para outros setores. O segmento metalmecânico é motivo de orgulho, reconhecido dentro e fora do Brasil.
O polo moveleiro capixaba também se destaca, sendo o sexto maior do país. Nosso foco é adensar a cadeia e preencher lacunas. Agora, estamos trazendo para o Estado a produção de resina e papéis usados no MDF, antes importados de outros estados.”