Mobilizar para transformar: Pessoas na linha da frente da transição energética
Edifício Náutico, projeto do atelier Subvert Studio, vencedor do Prémio Golden Trezzini na categoria de "Melhor Execução da Fachada" (2021)

Mobilizar para transformar: Pessoas na linha da frente da transição energética

O setor da construção, que ainda representa um terço da procura energética mundial, iniciou uma profunda transformação das suas metodologias para abrir caminho para um futuro energeticamente mais eficiente.

A indústria da construção enfrenta desafios significativos para reduzir a sua pegada de carbono. Um dos principais obstáculos está nos próprios materiais que sustentam o setor: cimento, aço e vidro. Só o cimento representa cerca de 8% das emissões globais de CO₂.

Já existem alternativas com menor impacto ambiental, como o cimento geopolimérico, o aço "verde" e materiais de isolamento de base biológica, mas a sua adoção continua limitada pelos custos elevados e pela falta de normas e certificações.

Superar estas lacunas estruturais e regulamentares é essencial para acelerar a transição para abordagens construtivas mais sustentáveis de baixo carbono e maior eficiência energética. É uma mudança complexa, que exige uma visão partilhada entre todos os intervenientes e um compromisso a longo prazo.

A nível europeu, iniciativas como a EPBD (Diretiva de Desempenho Energético dos Edifícios) e a CSRD (Diretiva de Relato de Sustentabilidade Corporativa) representam passos importantes. Embora ainda não estejam totalmente integradas em sistemas padronizados e consolidados, marcam um avanço crucial rumo a práticas mais sustentáveis.

Nas cidades, o desafio é duplo: adaptar o o tecido urbano existente para acolher maior densidade populacional, assegurando simultaneamente edifícios com elevados níveis de eficiência energética.

Mais do que consumidores passivos, os edifícios do futuro devem participar ativamente nos novos modelos de distribuição energética que as cidades inteligentes tornam possíveis.

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Como acelerar a transição energética do setor

A transição energética no setor da construção não depende de uma única ação, exige a coordenação de vários impulsos.


1. Reforçar a regulamentação

Sem legislação sólida e fiscalização rigorosa dos códigos de construção, as ambições de sustentabilidade permanecem apenas no papel. Estes códigos devem assentar em metodologias de verificação robustas, garantindo que os padrões definidos são realmente aplicados na prática.

2. Apostar em materiais sustentáveis e certificados

A inovação em materiais fiáveis e ecológicos é essencial. Para acelerar a sua adoção, é necessário investir em infraestruturas nacionais de ensaio e certificação que validem o desempenho destes produtos, fortalecendo a confiança dos profissionais e do mercado.

3. Formar uma nova geração de profissionais

A transição depende também de competências qualificadas. É importante atualizar orientações académicas e técnicas, criar programas de formação contínua e promover colaboração entre as universidades, o governo, as autarquias e o setor privado.

4. Envolver a sociedade: cidadãos, proprietários e utilizadores

A mudança não se faz apenas em novos projetos: também começa nas casas das pessoas. Sensibilizar para os benefícios reais e duradouros da eficiência energética, como contas mais baixas, maior conforto e edifícios mais resilientes, é um motor poderoso de transformação.


Quando estas combinamos estas ações, é criado um efeito multiplicador: transformam as práticas de construção e alinham o setor com os objetivos energéticos e climáticos, a nível nacional e global.

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Sem envolvimento, não há transformação

Um fator decisivo para o sucesso desta transição energética é o envolvimento das pessoas. A ação pública pode facilitar este caminho, mas a mudança só será possível se houver participação ativa e investimento dos cidadãos.

Caso contrário, a transição corre o risco de ser percecionada como algo "imposto", em vez de um processo indispensável para o bem-estar coletivo.

Para reforçar o envolvimento, é fundamental disponibilizar soluções energéticas prontas a usar, fáceis de implementar e apoiadas por modelos financeiros claros e transparentes, permitindo que as pessoas compreendam facilmente o valor das suas escolhas e decisões.

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Dados reais para decisões inteligentes

Os edifícios podem indicar se estão a cumprir o prometido e se proporcionam um ambiente interior saudável. Esta é uma das grandes oportunidades atuais no setor da construção.

Graças a sensores cada vez mais acessíveis, é possível recolher dados reais de consumo energético, tornando os ocupantes mais conscientes e motivados para projetos de retrofit energético.

O acesso à informação concreta sobre consumo e desempenho potencia o desenvolvimento de modelos financeiros inovadores.


Exemplo

Com estes dados, bancos e instituições financeiras podem medir os ganhos proporcionados por habitações energeticamente eficientes e desenvolver produtos de financiamento específicos, bem como outras medidas de apoio aos clientes, incentivando o investimento em edifícios mais eficientes.


A avaliação do desempenho dos edifícios também contribui para a validação e o desenvolvimento de novas tecnologias que impulsionam a transição energética. No entanto, tal como acontece com a qualquer tecnologia emergente, existe um período de adaptação, antes de o mercado compreender plenamente todas as questões envolvidas.

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Quais são os desafios atuais do setor da construção na transição energética?

Uma das medidas mais adotadas na corrida para a neutralidade carbónica é a descarbonização da eletricidade e a eletrificação do aquecimento nos edifícios, substituindo caldeiras a gás por bombas de calor.

Porém, o grande obstáculo continua a ser a procura de aquecimento e arrefecimento nos períodos de pico, que coloca uma pressão significativa sobre as redes elétricas.

Esta pressão tende a aumentar nos próximos anos. O aquecimento global intensifica a necessidade de ar condicionado, enquanto em muitos países de latitudes mais frias acelera a eletrificação do aquecimento e da cozinha.

Neste contexto, a qualidade e o desempenho energético do parque edificado tornam-se decisivos para gerir a procura elétrica num sistema cada vez mais baseado em energias renováveis.

Edifícios com elevada inércia térmica, capazes de armazenar e reter calor, permitem reduzir o consumo energético ao longo do dia e possibilitam que as pessoas aqueçam ou arrefeçam as suas casas antes dos horários de maior procura, aliviando a carga sobre a rede.


"Quando a envolvente exterior é bem concebida, o edifício torna-se mais resistente, saudável e energeticamente eficiente. Uma envolvente de qualidade garante melhor desempenho e minimiza perdas térmicas, além de prevenir patologias como infiltrações e fungos.

O conforto começa com uma fórmula simples: a aplicação de isolamento térmico adequado, a orientação otimizada da fachada e envidraçados, e a escolha da caixilharia e do vidro ideal para cada projeto."

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Ao mesmo tempo, a descarbonização exige que o setor da construção avance no desenvolvimento de edifícios flexíveis e inteligentes, preparados para interagir com uma rede dominada por fontes renováveis variáveis.

Neste novo cenário, a flexibilidade e a gestão da procura serão tão determinantes quanto a eficiência térmica, permitindo que os edifícios funcionem como agentes ativos no equilíbrio do sistema energético.

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Outros temas

Do conceito à eficiência: dois edifícios onde o design faz toda a diferença

Edifício Náutico

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Um projeto do atelier de arquitetura Subvert Studio

O Edifício Náutico surge como uma resposta a um desafio lançado pela Câmara Municipal de Cascais: requalificar o antigo esqueleto urbano à entrada da vila, conhecido como o antigo Hotel Nau, e transformá-lo num marco arquitetónico contemporâneo.

O projeto cria uma nova presença urbana, promovendo a continuidade com a vila e elevando a qualidade do espaço público. O design deixa de ser apenas forma, assume também relevância social, ambiental e energética.

Um dos elementos mais distintivos é o sistema de persianas em módulos cerâmicos, que garante sombra natural aos interiores, reduzindo a necessidade de climatização artificial e contribuindo para uma utilização mais eficiente da energia.

Em simultâneo, estas persianas proporcionam dinamismo à fachada. Abertas, fechadas ou semiabertas, criam efeitos subtis de transparência e opacidade que variam com a luz e com o ponto de observação, conferindo ao edifício uma aparência mutável e viva.

O Edifício Náutico demonstra que, ao integrar soluções que valorizam o conforto térmico, a eficiência e a estética, é possível transformar estruturas obsoletas em edifícios preparados para os desafios urbanos e ambientais atuais.

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Villa Solaris

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Um projeto do atelier de arquitetura nPoente

A Villa Solaris, em Lagoa, é um exemplo claro de como a arquitetura pode ser simultaneamente impactante, funcional e energeticamente eficiente. O edifício combina uma estética contemporânea com soluções concebidas para reforçar o conforto térmico e a sustentabilidade.

O equilíbrio entre as faces assimétricas e os amplos vãos envidraçados maximiza a entrada de luz natural e enquadra a paisagem envolvente, estabelecendo uma relação harmoniosa entre o interior e exterior.

Para reduzir o calor intenso característico da região, o projeto integra projeções inclinadas nas paredes e pórticos, concebidas como uma extensão natural da arquitetura. Dispostas de forma estratégica, estas estruturas são executadas com perfis metálicos estruturais e revestidas com placas de gesso Glasroc® X da Placo®, garantindo resistência e durabilidade.

Assim como no Edifício Náutico, estas projeções criam zonas de sombra eficazes, melhorando o desempenho térmico do edifício e reduzindo a necessidade de arrefecimento artificial.

Através da orientação inteligente da luz, da sombra cuidadosamente calculada e de soluções que privilegiam o isolamento térmico, a Villa Solaris garante maior conforto aos seus ocupantes e comprova que o design não se limita à estética, sente-se.

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📖 Encontra obras de referência LEED Gold na edição anterior: "Do projeto à certificação: maximizar créditos LEED"

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