Não gosto de despedidas
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Não gosto de despedidas

Quando uma pessoa morre, como ocorreu recentemente com a jovem australiana, Holly Butcher, 27 anos, vítima de câncer - ela deixou uma carta despedida, que viralizou no Facebook, contando o que aprendeu durante a batalha contra a doença - eu penso em minha própria vida. Não dá para morrer ainda. Simplesmente não dá.

Hoje, eu não disse “Eu te amo” para os meus pais. Não liguei para o meu irmão para falar: “ - Você é o melhor irmão do mundo”. Não orei. Nem cheguei ao trabalho. Quero comer um chocolate depois do almoço. À tarde, tenho que passar em uma loja de roupas. E, à noite, preciso ler algumas páginas do livro que iniciei ontem.

Ainda preciso contar muitas histórias de pessoas por meio das palavras. Montar um blog. Escrever um livro e ler centenas de autores. Aprender espanhol, francês ou italiano. Saltar de paraquedas (esse será um desafio). Voar de balão. Fazer um cruzeiro. Aprender a nadar. Fazer mergulho. Viajar para diversos lugares. Visitar à casa da Anne Frank. Conhecer o Mickey. Passar um Natal na neve.

Ainda preciso fazer intercâmbio. Terminar a pós-graduação. Iniciar o mestrado. Completar muitas primaveras. Acordar tarde em muitos domingos. Beber vários drinks e dançar com meus amigos. Fazer novas amizades e cultivar as que eu tenho. Casar. Ser mãe, talvez de gêmeos. Comer sem culpa um monte de pipoca e doce no cinema. Beijar +, abraçar +, amar +, sorrir + e rir até a barriga doer.

Ainda preciso passar alguns dias no nordeste com minha família. Ajudar mais pessoas. Prestar serviço voluntário para alguma instituição. Doar sangue novamente. Saber que a medicina encontrou a cura para o câncer. Poder ver um dia a política melhorar no nosso país.

Ainda preciso comprar uma impressora nova, organizar minhas fotos no computador e arrumar minha TV. Usar meus brincos novos, fazer mechas no cabelo e pintar as unhas com o esmalte que comprei a semana passada.

Ainda preciso dirigir melhor e cozinhar melhor. Plantar uma árvore. Visitar uma tribo indígena. Conhecer várias religiões. Ir a mais jogos do Corinthians. Ir ao show das bandas de rock que eu gosto. Gravar uma música. Tocar algum instrumento. Voltar a praticar handebol e a jogar xadrez. Competir em uma maratona.

Ainda preciso, ainda preciso, ainda preciso... Ter mais gratidão pela vida! Nossa, ainda tem tanta coisa para fazer e a gente não sabe quanto tempo tem.

Aline Pagliarini

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