Impressões da COP30 — entre falhas, dores e potências da Amazônia A COP30 em Belém tem sido marcada por desafios significativos. As críticas à organização, a logística complexa e, mais recentemente, o incêndio na Blue Zone trouxeram apreensão e uma sensação de fragilidade coletiva. Esses episódios mostram a distância entre a ambição climática e nossa capacidade real de garantir governança e cuidado — especialmente em um território tão simbólico como a Amazônia. Mas nenhuma dessas falhas apaga o que pude testemunhar de transformador nesta COP. Estar em Belém foi uma experiência extraordinária. A diversidade do Brasil se impôs de forma vibrante: opiniões, saberes, expressões culturais e manifestações que revelam múltiplas Amazônias — urbanas, indígenas, ribeirinhas, quilombolas, periféricas, inovadoras. A presença ativa de lideranças negras, indígenas e juventudes organizadas ampliou ainda mais a potência do debate. A COP na Amazônia é viva, pulsante e necessária. Tive a honra de participar da COP30 a convite da Diagonal, organização que há décadas coloca pessoas e territórios no centro das decisões. Nesse contexto, a fala de Katia Mello me atravessou: a transição energética é inevitável, mas não é automaticamente justa. Se não cuidarmos, pode aprofundar desigualdades e recair sobre quem já vive os maiores impactos socioambientais. Isso exige atenção às agendas de pobreza energética, gênero, raça, acesso e direitos. Estar na Amazônia torna tudo mais evidente: clima não é só carbono; é sobre gente, cultura, modos de vida e justiça. Isso aparece nas conversas, nas casas temáticas, nas falas de lideranças tradicionais e negras e nas manifestações que ocuparam Belém — mesmo em meio a tensões e contradições. A COP30 reafirmou que a ciência segue nos alertando; que a desigualdade é vetor climático central; que a bioeconomia precisa incluir quem vive da e na floresta; e que nenhuma solução será legítima sem diálogo real com os territórios. E, justamente quando tudo parecia denso, um momento trouxe leveza: a apresentação da Orquestra e do Coral Vale Música, com o concerto BIOFONIA, criação do compositor Mathias Madsen Munch. Uma tradução sonora da floresta — suas tensões, sua beleza, sua urgência. Ver o trabalho do Vale Música e da Fundação Amazônica de Música foi reencontrar o capital paciente em ação: processos culturais que transformam vidas, geram pertencimento e ampliam horizontes. Saio de Belém com a convicção de que, apesar dos tropeços, seguimos avançando — e de que a transição só será real se for construída com escuta, sensibilidade territorial e coragem para colocar gente no centro das decisões. Meu agradecimento especial à Diagonal, pelo convite e pelo diálogo qualificado, reafirmando que a mudança verdadeira não se impõe: ela se constrói com quem mais precisa dela. A Amazônia fala — e nós precisamos não apenas aprender a ouvir, mas agir com coragem e responsabilidade. #Diagonal #FundaçãoAmazônicaDeMúsica #Biofonia #COP30
Ei Olinta!! Seu relato me fez lembrar uma frase clássica dos estudos de mobilização social: "Democracia é como o Amor: não se pode comprar, não se pode decretar, não se pode propor. A Democracia só se pode viver e construir." Acho que assim são todos os processos que se pretendem justos e sustentáveis. Desafios grandes e que precisam da comunicação "com" os públicos e você faz tão bem! Abraços!
Muitas observações verdadeiras. Isso é Brasil de verdade. Obrigada por compartilhar.👏👏
Olinta Cardoso excelente reflexão!
Parabéns Olinta. Somente alguém com sua sensibilidade para redigir mensagem tão pertinente a esta realidade. Abçs
Querida Olinta, belo post. Obrigado por compartilhar essa experiência vívida. Percebe-se aqui um ponto central: não há estratégia climática eficaz quando existe distância entre ambição e capacidade real de execução. A COP30 expôs esse descompasso — ao mesmo tempo em que evidenciou o imenso potencial que emerge quando território, cultura e gente são colocados no centro. A experiência em Belém também deixa clara que qualquer agenda de transição precisa reconhecer as diferentes realidades da Amazônia, suas dores e suas forças. Políticas climáticas fracassam quando ignoram contextos, quando tratam desafios humanos como notas de rodapé ou quando não dialogam com quem vive os impactos diariamente. E há outro aprendizado incontornável: mudança verdadeira não depende apenas de boas intenções, mas da disciplina de integrar visão, governança e execução. A transição energética só será justa se nascer de decisões ancoradas no território, orientadas por quem o compõe e sustentadas por capacidade real de entregar. Seu post traduz isso com precisão: a Amazônia nos convoca a rever estratégias, a criar valor com as pessoas — não para elas — e a transformar discurso em prática. É um chamado para agir com escuta, presença e coragem. Abraço.