A Era da (des)Informação
Arte: Flavia Boabaid

A Era da (des)Informação

O debate em torno das fake news não é recente, mas tem ganhado cada vez mais força no cenário atual. Questões como o grande número de informações falsas sobre a pandemia do coronavírus, a maior propagação de conteúdos tendenciosos em campanhas políticas e o crescimento de portais de notícias criados para reforçar uma determinada corrente ideológica acendem um alerta em torno dessa discussão. Não é à toa que o Congresso brasileiro discute atualmente um projeto de lei para o combate às notícias falsas nas mídias sociais e nos serviços de mensagens, o chamado “PL das Fake News”. O projeto é polêmico e divide opiniões, já que envolve a garantia da liberdade e um possível controle realizado pelo Estado.

Na Era da Informação, a expansão dos canais digitais abre novas possibilidades para produção e consumo de conteúdo. Mas será que essa ampliação torna necessariamente a sociedade mais informada? Por um lado, entendemos que o acesso a mais conteúdos e de forma descentralizada possibilita a democratização da informação, mas por outro, não se pode negar que essa realidade gera um volume cada vez maior de notícias falsas que contribuem para a desinformação.

Somado a isso, somos bombardeados diariamente por milhares de informações que circulam tanto nos veículos de imprensa quanto nas redes sociais. Para se ter uma ideia, apenas no contexto da Covid-19, segundo relatório da Organização Pan Americana de Saúde (PAHO), foram carregados 361 milhões de vídeos no YouTube, publicados 19.200 artigos no Google Acadêmico e postados 550 milhões de tuítes sobre o tema em abril deste ano. Vivemos a chamada infodemia, que dificulta a nossa capacidade de processar todo o conteúdo a que somos submetidos e, ainda pior, de discernir o que é falso ou real.

Nesse cenário, agências de checagem de fatos como a Lupa e movimentos como o Sleeping Giants ganham relevância no combate às fake news por atuarem no monitoramento, na verificação e na denúncia de informações falsas. A própria imprensa tradicional também tem se mobilizado nesse sentido criando serviços de fact-checking, sem perder seu foco original de manter a sociedade informada.

É interessante observar, inclusive, a importância do trabalho realizado por veículos de comunicação tradicionais como jornais / revistas, rádios e TV. Um estudo recente realizado pela Kantar Consultoria com consumidores de notícia nos Estados Unidos, na França e no Brasil mostra que o jornalismo de qualidade é considerado imprescindível e não pode ser substituído por conteúdos proprietários. Para 72% dos entrevistados, as mídias impressas são as mais confiáveis, enquanto os portais de notícias têm menor credibilidade para 41% dos participantes, justamente pela facilidade de propagação de notícias falsas. Já para 60% dos respondentes, as redes sociais e os aplicativos de mensagens têm menor confiabilidade.

Acreditamos que a sociedade esteja tomando cada vez mais consciência sobre a verificação da autenticidade das informações consumidas, mas ainda é grande o volume de compartilhamento de notícias que prestam um desserviço à população. Já passou da hora de ter maior controle e punição contra a disseminação de fake news. É fundamental que haja um debate para a definição de regras claras, mas é preciso cautela para estabelecer as medidas de combate e prevenção à desinformação para não criar um ambiente regulatório autoritário que limite os efeitos positivos da maior circulação de conteúdo.

Priscilla Caetano e Lígia Batista, sócias da Aliá RP.

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