Informação é poder?

Informação é poder?

“Vivemos na Era da Informação”. “Informação é Poder”. Essas frases já foram tão usadas que quase ninguém as questiona. São chavões. Tão chavões que poucas vezes paramos para pensar a respeito delas.

Há uma década, a informação estava nas mãos de um grupo restrito de pessoas, jornalistas que trabalhavam para os grandes veículos de imprensa, fossem eles revistas, jornais impressos, TV, rádio ou sites de notícias. A chegada da internet, no fim da década de 90, impulsionou um movimento para que os veículos de mídia se “reinventassem” e uma  das saídas encontradas era a distribuição de jornais grátis. Em 2006, havia cerca de 200 publicações gratuitas no mundo.

Então, chegaram as redes sociais e, com elas, a democratização não só da notícia, mas de sua produção. Cada usuário tornou-se, potencialmente, um produtor de conteúdo cada vez que compartilha, comenta ou publica em sua timeline. Só no Facebook, são 1,65 bilhão de usuários, cada um criando uma página própria, com informações gratuitas diferentes, que podem ser consumidas por quem estiver disposto a isso. Incluídos neste panorama, os 200 jornais grátis de 2006 representariam, dez anos depois, apenas 0,00000012% das publicações gratuitas do mundo.

Se é verdade que “informação é poder”, mais de 1/7 da população mundial teria o poder nas mãos. Isso seria maravilhoso, revolucionário. O poder estaria nas mãos do povo e certamente a vida de todos nós poderia melhorar, coletiva e individualmente. Mas, infelizmente, não parece ser isso o que tem acontecido.

Entendendo o contexto

Afinal de contas, por que será que a informação não empodera, como antes acreditávamos que acontecia? Estaria ela posta em xeque mate?

Outro dia, em um grupo de WhatsApp de que participo, alguém compartilhou um link de um site que criou um ranking de políticos, ordenando-os do melhor para o pior, de acordo com faltas, leis criadas e votadas etc. Em vésperas de eleição, achei a ideia excelente e fui visitar o site, uma plataforma com ideologia, por assim dizer, “de direita”. Achei interessante o fato de a recomendação ter vindo de uma pessoa que sempre se posicionou como sendo “de esquerda”. Pensei que reconhecer uma boa iniciativa, independente de ideologia, era um alento em tempos de polarização e ódio ao diferente. Comentei isso no grupo, disponibilizando a informação de quais eram os políticos mais bem-ranqueados no site.  Minutos depois, veio a resposta. A pessoa disse que estava em um local sem acesso à conexão de boa qualidade e que, por isso, não tinha visitado o site antes de compartilhar, dando a entender que, se tivesse entrado na página, provavelmente não a teria compartilhado.

Esse episódio me levou a pensar que, hoje, o chavão “informação é poder” não é mais verdade. De fato, a informação está ao alcance de qualquer um, mas as pessoas curtem, comentam, compartilham e publicam compulsivamente, muitas vezes sem checar. Um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Columbia e do Instituto Nacional da França estimou que, durante o período de realização da pesquisa, cerca de 59% dos links compartilhados no Twitter não foram nem mesmo clicados por quem os compartilhou, apesar de alguns dos links terem sido compartilhados milhares de vezes.

Outra experiência – esta sem padrões científicos – feita pelo site de humor Science Post mostra outro dado alarmante. O site publicou um texto com o título “Estudo: 70% dos usuários de Facebook só leem o título de artigos científicos antes de comentar”.

A partir do segundo parágrafo, o próprio texto do Science Post era composto de “lorem ipsum”, o texto falso que diagramadores e jornalistas usam, mundo afora, para poder mostrar o resultado das publicações antes que elas fiquem prontas – antes que as informações sejam, de fato, apuradas. O post com texto falso, mas com manchete alarmante, teve 46 mil compartilhamentos.

Esses dados parecem trazer consigo um recado importante:

Na Era da Informação, informação não é mais diferencial.

O que conta, agora, é algo que exige ainda mais trabalho, tempo e reflexão: a interpretação do que significa uma informação. É preciso acumular um denso repertório, ser capaz de relacionar dados aparentemente desconexos, contextualizar o conhecimento existente, separar os dados verdadeiros dos falsos, apurar a origem das informações e entender o que tudo isso significa.

Assimilar, usar o senso crítico para criar contexto e ajudar a interpretar o oceano de informações que temos à nossa disposição, hoje em dia, parece, de fato, ser mais relevante do que apenas consumir a informação que temos ao nosso redor.

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Jose D.

[Tecnólogo | Analista de Sistemas | Analista de Suporte | Coder] - Empresário individual

8 a

Olá Renata de Albuquerque, excelente seu artigo. Infelizmente hoje as pessoas não dão o devido valor à informação. Em parte por preguiça de ler, em outra por não conseguirem ligar "lé com cré". Serem analfabetos funcionais. Vejo muitos compartilhamentos por pessoas que não compactuam com o conteúdo simplesmente porque a manchete sugeria outra coisa. Tem muita gente usando deste artifício para trollar usuários e disseminar suas ideias, infelizmente. Quando vi o título do seu texto tomei um susto. Coincidentemente publiquei um texto de título igualzinho. Foi o meu primeiro aqui no LinkedIn. O meu fala do poder que se tem ao saber o que fazer com a informação, o valor dela. A informação como ferramenta, munição. Passe lá e dê uma olhada. Acho que os dois de complementam.

Eliana Antonopoulos

Professora de inglês e português particular ou para grupos; tradutora e revisora de textos (inglês-português e vice-versa); criadora de conteúdo em mídias digitais.

8 a

Ótima reflexão. Além de não se preocuparem com a fonte da informação que compartilham, as pessoas sequer a leem integralmente, e se o fazem, nem sempre conseguem interpretá-la satisfatoriamente. Por isso valeria dizer que informação difere de conhecimento. Ser "informado" pode ter outra acepção até, já que ter "meramente" consumido palavras e textos não faz alguém refletir ou ficar mais sábio. Parabéns pelo texto.

Raquel Rodrigues

✨ Te ajudo a se conectar com confiança e destravar oportunidades | Mentora de Networking e Comunicação Autêntica | Especialista em relações interpessoais profissionais | Escritora

8 a

Excelente reflexão. E uma grande oportunidade de desenvolvimento para todos, para saírem do superficial massificado para um mundo de conteúdo e informação relevantes.

Dirceu Ascendente, CEA

CEA|CPA20 |Consultor Comercial|Vendas|Representação/Negócios

8 a

Parabéns, realmente muitos compartilhamentos as pessoas não leram o que compartilharam, e as vezes é algo que vai contra o que idealizam.

Darcio Ranção Ricca

Coordenador de Negócios na Confederação Brasileira de Golfe

8 a

Excelente!

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