A cultura do descancelamento
A cultura do cancelamento começou a ganhar força por volta de 2017 quando as pessoas nas redes sociais começaram a boicotar determinados comportamentos, atitudes e falas de outros usuários, sobretudo figuras públicas.
A lista de cancelados não tem fim e abrange todos os tipos de pessoas e de malfeitos imagináveis. Dentro desse cenário qualquer pessoa pode ser tanto o juiz quanto o réu.
Mas se o cancelamento começou com boas intenções, foi se deteriorando ao longo da caminhada. Os tais donos da razão também foram esquecendo do acontecido, fazendo com que os cancelados retomassem seus lugares na sociedade.
Um dos cancelamentos mais polêmicos que tivemos recentemente foi da Karol Conká. Mesmo quem não era fã do Big Brother Brasil acabou lendo uma ou outra notícia a respeito desse fenômeno coletivo de repúdio às ações da rapper dentro do reality show.
Ela, que saiu com a maior rejeição já vista no programa, 99,17% dos votos, não se manifestou sobre o ocorrido aqui fora. Ficou praticamente um mês afastada das redes e, quando voltou, parecia outra pessoa. Mudou postura, discurso, roupa.
Nesse meio tempo, no Twitter, onde havia críticas e palavras de ódio contra a artista, começou a chover memes. Uma de suas frases ditas no programa, em um contexto que a fez ser cancelada no primeiro momento, viralizou. "Qualquer coisa me bota no paredão”. Foi o suficiente para começar a amolecer o coração dos canceladores.
O meme, que veio de forma sutil, gerou muitas risadas e divertimento. E se tem algo que brasileiro gosta mais que cancelar, é meme. Quase como passe de mágica, Karol Conká foi descancelada.
Como bem sabemos, a memória do brasileiro é curta para algumas coisas. E desse fato, surge o fenômeno do descancelamento que, assim como o cancelamento, não segue regras claras.
Muitos artistas já passaram pelo tribunal das redes, tiveram seus tempos sombrios no esquecimento temporário, mas conseguiram se reerguer. Já outros, não.
E isso me faz questionar a efetividade de um cancelamento. Será que o descancelamento é mais seletivo do que o próprio cancelamento?
Especialista em Comportamento do Consumo | Service Design | Strategy
4 aAcredito que ambos existem na esfera da "convivência", aqueles que não conseguem um "grato retorno ao trono", geralmente mantém uma presença reforçada por motivos semelhantes ao que levam ao seu cancelamento. A ideia de adoção da figura por seu público é de um senso emocional tão profundo quanto as suas interações tecnológicas; e em tempos de "novo modelo de mundo", o texto se torna voz, a voz uma imagem, e a imagem um sentimento.
Transformar pela educação e surpreender pela pesquisa. Pesquisadora de futuros do comportamento e caçadora de insights. Passion for education and consumer research. Future behavior researcher and insight hunter.
4 aMichel Alcoforado adorei as reflexões e trouxe esses dois eixos tão fortes nas conversas dos brasileiros, cancelamento e memes. Nosso prego e martelo digitais para construir e destruir reputações, ideologias, ideias. Estamos aqui no COPPEAD pesquisando esse tema e vendo inclusive como o cancelamento potencializa imagens de marca. Por que não, certo? Obrigada pelo artigo! Sempre leio seus textos! 😊