OS DESAFIOS DA NOTÍCIA NA ERA DA INVERDADE
(crédito: Maure)

OS DESAFIOS DA NOTÍCIA NA ERA DA INVERDADE

Diante do constante desenvolvimento tecnológico e a convergência das informações dentro das novas tecnologias, o fazer jornalístico se depara constantemente com novos desafios, que se aprofundam pelo grave momento de desvalorização da profissão, colocando em cheque o valor notícia da informação para a sociedade.

Desde de 2017 se concentra a necessidade dos estudos sobre as modificações ou falseabilidades da informação a partir das fakes news. Segundo João Paulo Menezes, no artigo Sobre a necessidade de conceptualizar o fenómeno das fake news, o autor denomina fake news como “Um documento deliberadamente falso, publicado online, com o objetivo de manipular os consumidores.” (MENEZES, 2018, p.11).

O termo fake news ficou mundialmente conhecido e diretamente relacionado com o jornalismo, mediante ao Twitter do Ex Presidente Norte Americano Donald Trump, em janeiro de 2017, que dizia “Fake News, a total political witch hunt.” Esse twitter relacionava diretamente a informação da imprensa com ataques a seu governo já que, “Trump utilizava, quase sempre, a expressão para classificar notícias (jornalismo, portanto), que no limite serão notícias falsas (false news), ou tudo aquilo que, publicado, lhe é desfavorável” (MENEZES, 2018, p.4). com o Trumpismo não demorou muito para que o jornalismo fosse alvo da descredibilização, já que toda informação poderia ser um ataque ao Ex Presidente.

Embora as fakes news não fossem novidade segundo Robert Darnton em A verdadeira história das notícias falsas, a “Invenção de verdades alternativas não é tão infrequente, e equivalentes às mensagens de texto e aos tuítes cheios de veneno de hoje podem ser encontrados em quase todos os períodos da história, inclusive na Antiguidade“, a popularização do termo foi marcada pela ligação política ao jornalismo norte americano como “É pelo menos claro que foi o presidente dos Estados Unidos Donald Trump quem a vulgarizou a partir de janeiro de 2017 e que foi a partir das eleições presidenciais de 2016 que o fenômeno se banalizou” (MENEZES, 2018, p. 3).

A relação direta entre a notícia e as fakes news tem debruçamentos importantíssimos para o Brasil na atualidade, que provocam uma guerra constante entre a credibilidade da informação e a desinformação, no entanto essa ligação passa por diferentes elementos, que se diferenciam com avanço tecnológico e do webjornalismo, isso porque segundo Luiz Ricardo Goulart Huttner, “O webjornalismo evidenciam que, com o passar do tempo, novos formatos, categorias e funcionalidades são incorporados ao jornalismo, fazendo com que sua estrutura, seu formato e até mesmo sua linguagem sejam modificadas por aqueles que produzem notícias” (HUTTNER, 2020, p. 30), desta forma as novas tecnologias tendem a moldar constantemente o fazer jornalístico e orientar a condução da informação para que a prática seja legitimada perante a sociedade.

CAMINHOS DAS FAKES NEWS

É através dessas modificações que a informação pode ser descaracterizada e manipulada, como é o caso do avanço da internet e das tecnologias. Antes de se conseguir avançar para atualidade e essas transformações, é importante entender o caminho da desinformação até a realidade atual das fakes news e suas novas tecnologias, para Volkoff (2004) houve três eventos especiais para o surgimento da desinformação:

- A invenção da prensa de imprimir por Gutenberg, em 1434, logo a possibilidade de reprodução indefinida da desinformação. Esta invenção originou:

- lançamento do primeiro periódico (em Colónia, em 1470) rapidamente seguido de uma multidão de outros, logo a possibilidade de modificar diariamente a desinformação. Este lançamento esteve na origem da:

- importância crescente, a partir do século XVIII, daquilo que na vida política ocidental se chama de opinião pública, logo ocasiões para desinformação multiplicadas até ao infinito.

Assim, Volkoff consegue definir as características da desinformação sendo: manipulação da opinião pública; processos ocultos; fins políticos (internos ou externos). Fazendo a definição de que a desinformação é uma manipulação da opinião pública para fins políticos através de informação trabalhada por processos

ocultos” (VOLKOFF, 2004, p. 19). Nesse sentido é possível perceber que há fortalecimento intrínseco da desinformação em cenários políticos onde se pretende manipular a opinião pública.

MEXENDO COM OS SENTIMENTOS

Retornando a relação profunda com o jornalismo, as práticas de desinformação tende a mexer não só com a noção da realidade, mas também com os sentimentos, para Nicholas Difonzo, esse sentimento é anterior a prática jornalística, vem dos boatos da vida cotidiana, o que exprime além de práticas e condutas profissionais, uma relação social “As pessoas acreditam em boatos seja porque eles estão em consonância com os sentimentos, ideias, atitudes, estereótipos, preconceitos, opiniões ou conduta dos ouvintes. Portanto, boatos condizentes parecem plausíveis — o ouvinte está em uma condição psicológica favorável à aceitação do boato” (DIFONZO, 2009, p. 135)

É através desse sentimento, que se cria oportunidade e condições ideias para as Fake News, contudo assim como as diversas transformações da tecnologia, é importante entender que o jornalismo também se modificou em diversos subprodutos para atender a demanda do receptor na era da internet, essa é uma característica bem anterior ao webjornalismo, que vem com a teoria da Indústria Cultural de Theodor Adorno e Max Horkheimer, sendo o jornalismo ligado diretamente a necessidade de suprir as demandas do avanço tecnológico e a distribuição de conteúdo, como comenta José Marques de Melo e Francisco de Assis “Nosso pressuposto é o de que a compreensão dos gêneros jornalísticos e de suas extensões só tem sentido se inseri-los no ambiente que lhes é peculiar, ou seja, os suportes tecnológicos e as engrenagens produtivas que permitem o fluxo das mensagens concebidas, produzidas e difundidas pela corporação jornalística, o que inclui evidentemente os mecanismos de interação com o público-alvo — leitores, radiouvintes, telespectadores, internautas etc”. (MELO, ASSIS, 2016, p.42)

TRANSFORMAÇÕES DAS FAKES NEWS EM NOVAS TECNOLOGIAS

Com esses avanços, também a manipulação de informações que antes era ligado diretamente ao “texto” se transformou em subprodutos das fakes news, “Uma das características das fake news é que elas ‘não olham a meios para atingir os fins’. Nesse sentido, é normal encontrar não apenas textos,mas também fotos e vídeos falsos ou parcialmente falsos, em simultâneo.” (MENEZES, 2018, p. 08). Sem dúvidas um prato cheio para os novos problemas que o jornalismo encontra na atualidade, é o subproduto da DeepFake, falsificações profundas, através do uso da inteligência artificial, de áudios e vídeos.

Os modelos de deepfakes estão ficando cada vez melhores e mais fáceis de adaptar de uma pessoa para outra. Exigem menos exemplos de alguém para fazer uma boa falsificação. Além disso, estão sendo comoditizados, você pode acessar um site e solicitar uma deepfake. Estão sendo disponibilizados cada vez mais em aplicativos. Se combinarmos isso com o rápido avanço na falsificação de áudio, você tem motivos reais para se preocupar. (Sam Gregory, diretor da organização Witness, 2019 Folha de São Paulo)

Embora ainda não se possa dimensionar os impactos da DeepFake no cenário atual do jornalismo brasileiro, é propenso pensar que essa forma de desinformar tem características mais convincentes no que se diz respeito ao receptor da mensagem, já que a alteração de imagem, vídeo ou sons podem facilmente confundir a realidade com a mentira.

É imprescindível ainda para o futuro jornalístico a possibilidade de criar mecanismos que oriente e prepare nossa relação com a informação mediante as deepfakes, pois como diz Nina da Hora para o MIT Technology Review “O debate sobre deepfakes não é essencialmente técnico, é sobretudo sociológico, pois manipulação de imagens são usados em diversas frentes e temas, logo, o fator importante é a finalidade dessas manipulações e do compartilhamento das imagens.” (Hora, 2021).

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